Fórum
Social Mundial 2010
Terça-feira,
26 de Janeiro de 2010
“O agrotóxico é criminoso”, afirma coordenador
do MST
Em
entrevista exclusiva à EcoAgência, João Pedro Stédile afirmou que o Brasil se
transformou no maior consumidor de veneno. Segundo ele, estão colocando 700
milhões de litros por ano em 60 milhões de hectares, o que dá 10 litros por hectare ou 4 litros por pessoa.
Segundo
Stédile, o efeito cumulativo do uso de agrotóxicos somente será possível ser
constatado dentro de cinco ou dez anos, tornando a pessoa mais suscetível a
doenças como câncer
Por Eliége
Fante, especial para EcoAgência de Notícias
No
auditório lotado do Semapi, onde está acontecendo a Oficina sobre “O avanço das
lavouras transgênicas no Brasil, situação, riscos e perspectivas para 2010” , uma atividade ligada
ao Fórum Social Mundial, está o coordenador do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile. No intervalo dos debates, ele afirmou à
EcoAgência, que considera como o maior problema a ser enfrentado a curto prazo,
o uso de agrotóxicos.
Conforme
explicou, devido a hegemonia das empresas transnacionais, o Brasil se
transformou no maior consumidor de veneno. “Estão colocando 700 milhões de
litros por ano em 60 milhões de hectares, o que dá 10 litros por hectare ou 4 litros por pessoa. São
venenos que não são biodegradáveis, destroem tudo,” disse.
Ele
acredita que o efeito cumulativo do uso de agrotóxicos na produção de alimentos
para a saúde humana somente será possível ser constatado dentro de cinco ou dez
anos, tornando a pessoa mais suscetível ao surgimento de doenças como o câncer.
“O agronegócio como grande propriedade, não consegue produzir sem veneno,
porque a alternativa ao veneno é a biodiversidade, a convivência entre os seres
vivos, onde um equilibra o outro, então, como eles querem impor o monocultivo,
se obrigam a botar veneno,” disse. E adiantou sobre uma campanha de
esclarecimento à sociedade que a Via Campesina está motivada a fazer, a de que
“o agrotóxico é criminoso”, já que destrói vidas não só vegetais e animais mas,
no futuro, de seres humanos.
MST e
agroecologia
Sobre a
inserção da temática ambiental no movimento, Stédile admite que, apenas nos
últimos dez anos se iniciou uma orientação voltada à mudança da matriz
produtiva no campo para a agroecologia. Mas, afirmou que, há uma diferença
entre a linha sugerida pelo movimento e a adotada pelos assentados. “O
comportamento dos agricultores em geral não é homogêneo, varia de Estado e
região, porque sofre influências da sociedade, dos meios de comunicação, do
meio onde vivem. O MST faz um trabalho de convencimento, já a realidade do
mercado e do agrônomo, impõem condições,” explicou.
Além deste
aspecto, o ativista apontou a falta de profissionais ligados à produção,
atentos à temática ambiental. E, por isso, contou que o movimento tem feito
esforços em parceria com universidades e escolas, para formar profissionais
conscientes e empenhados na produção agroecológica. Assim sendo, o MST já
formou duas primeiras turmas, uma na Universidade Federal do Pará, e outra no
Estado do Sergipe.
Sobre esta
última, lembrou a dificuldade que ainda enfrentam de reconhecimento, já que o
Conselho Regional dos Engenheiros Agrônomos do Estado tentou impedir a
realização do curso, tendo atrasado o cronograma em um ano. No Paraná e em São Paulo , também estão
acontecendo cursos de agronomia agroecológica para assentados.
Já no Rio
Grande do Sul, tentou-se promover um curso de veterinária na Universidade
Federal de Pelotas, que está suspenso e uma ação corre na Justiça. Enquanto
isso, acontecem cursos de nível médio em Veranópolis e Pontão. “O nosso
esforço, que é de todos os movimentos ligados à Via Campesina é para que os
assentados recuperem as sementes crioulas,” concluiu.